Nébula Rasa

Escolhendo melhor suas brigas

Você anda brigando muito na internet? Aposto que sim. Estamos atravessando um momento na história onde todos tem voz—e a voz nem sempre diz coisas corretas, gentis ou necessárias. Quando ela não incorpora pelo menos duas dessas três características, o que temos é um chamado para a briga.

“É verdade? É gentil? Isso é necessário? Talvez essas três peneiras ajudem a impedir que algumas palavras sejam ditas. ”

— Amy Carmichael, falsamente atribuída a Sócrates

Frequentemente, as pessoas escrevem coisas que soam como o chamado para uma briga fortuita porque, no fundo, é exatamente isso que elas querem. Desafiar quem tem opiniões contrárias é um sinal de lealdade à tribo. Nesse caso, qualquer tentativa de argumentação encontrará uma resistência diretamente proporcional que sinaliza ainda mais lealdade.

Nada lhe impede de participar de uma briga dessas se a sua intenção for, também, sinalizar lealdade à sua tribo. Mas se você quer discutir por questões epistêmicas, para fazer juz à verdade e à razão, ou porque o comentário alheio pode colocar a integridade de alguém em risco, então você precisa aprender a reconhecer quando a briga pode ser vencida—ou seja, quando a hipótese lançada é refutável.

A grande maioria do que as pessoas escrevem é irrefutável—ou seja, são meras opiniões. Elas tratam de elementos imensuráveis e, quase sempre, subjetivos—elementos que nunca poderão ser colocadas à prova porque não há o que se provar: não se trata de certos e errados. E se os argumentos da discussão não podem ser testados, por que continuar discutindo?

Exemplos de hipóteses irrefutáveis

Você percebe de que forma essas afirmações são indiscutíveis? Elas tratam de grandezas que não podem ser medidas e, por isso, não podem ser testadas; ou seja, elas não podem ser respondidas com “sim” ou “não”, mas no máximo um “depende”.

Tomemos como exemplo a afirmação que “música clássica é muito melhor do que funk”. O que “ser melhor” quer dizer neste caso? É possuir mais instrumentos? É ter mais ouvintes? É precisar de mais anos de estudo para compor uma música? Para que algo tenha valor artístico, é necessário que o artista tenha estudo formal? E o que significa “valor artístico” afinal?

Mas nem todo comentário-opinião é um caso perdido. Acontece que as pessoas não sabem se expressar com precisão. Todos os comentários acima podem ser reconstruído de forma a permitir refutações.

Exemplos de hipóteses refutáveis

Todos essas afirmações agora podem ser testadas, com maior ou menor rigor, e em seguida respondidas diretamente com “verdadeiro” ou “falso”. Ou talvez nem precisem ser discutidas: não há nada de errado ou falso alguém gostar mais de funk do que música clássica, ou preferir arroz em cima do feijão (com algumas ressalvas).

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