Nébula Rasa

Álbum: The Butcher's Ballroom (Diablo Swing Orchestra)

A noite em Budapeste não poderia ser mais fria, a cidade inteira permanece sob um véu amargo de escuridão que sufoca qualquer indício de respiração — momento perfeito para uma balada frenética no açougue municipal. A banda de vampiros artistas medievais falidos afina seus instrumentos musicais feitos da mais fina carne humana. A cantora de ópera, que faz ponta como /googoo girl /nas noites de sexta, quica dentro da jaula suspensa como uma prostituta ucraniana descalça no asfalto quente de Havana.

Ao mesmo tempo, uma porção de demônios desfigurados vindos do sétimo círculo infernal, todos vestidos de Elvis Presley logo ali perto do palco, pedem um tango matador enquanto devoram as almas de um milhão de pecadores como prato de entrada.

Se um dia você estiver presente neste cenário, peça encarecidamente à banda para que toquem o álbum “The Butcher’s Ballroom” do Diablo Swing Orchestra.

Eu estava triste e desconsolado. Parecia que eu já havia ouvido todo e qualquer estilo musical existente neste ou em outro planeta. Depois de ouvir canções aborígenes, MIDIs que vêm em cracks, músicas folclóricas da Mongólia e “Tico-Tico no Fubá” tocado no xilofone, não há como fugir do esgotamento de opções. “Ouça o ultimo album do simhpony x mano rsrsrs”, alguém me disse. Não consigo mais, Symphony X com músicas de 72 minutos, que são tão melodiosas quanto um solo interminável de reco-reco, esgotou meu frágil saco para esse estilo de metal.

Descobri esta banda recentemente, indicação de um velho batuta francês com o qual mantenho contato. Comentei com ele sobre meu problema com novidades musicais, já sem esperança alguma, e então ele me recomendou esta banda. Não estava dando muito crédito, mas eu estava na capa da pistola e qualquer ruído que tivesse rítmo (ou não) bastaria para mim.

A primeira avaliação de um álbum é sempre nas coxas, e desta vez não seria diferente. Coloquei o tal da “orquestra da ginga do capeta” para tocar enquanto começava a jantar meu pão com queijo prato, a refeição dos campeões. Começou a primeira faixa e declaro que se eu não tivesse primeiro comido o miolo do pão, como qualquer ser humano decente o faz, definitivamente eu teria me engasgado no próprio bolo alimentar, tamanho foi o choque.

O álbum começa com a música “Ballrog Boogie”, um blues dos anos 50 acompanhado por canto lírico em latim. Se isto não bastasse, a faixa “Poetic Pitbull Revolutions” apresenta ao mundo uma nova vertente da música esquisita, que eu afavelmente apelidei de flamenco metal — trilha sonora de faroeste clinteastwoodiano com uma pistolada de thrash metal.

A genialidade destes suecos pilantras não para por aí e é mais fortemente evidenciada nas músicas “Gunpowder Chant”, um rockabilly tocado ao som de um didgeridoo australiano e “Infralove”, uma canção post-punk neo-pagan new wave metal. O atributo mais impressionante? O álbum é perfeitamente harmonioso como um todo. Sabe-se lá que meios místicos utilizaram para combinar músicas tão diferentes, só no gingado do cambrulhão.