Em um site que nunca ouvi falar, associado a um suposto “International Astronomy Centre”, há uma notícia alarmante sobre o desvio da rota do meteoro 2-Pallas diretamente para cima do nosso querido e sujismundo planetinha azul. Não precisa se dar ao trabalho entrar no site, não! Eu colo a notícia para você aqui mesmo.

Asteróide Pallas poderá se chocar com a Terra em 2007

Astrônomos amadores descobriram que o asteróide 2-Pallas teve sua órbita alterada e segundo os últimos cálculos está em rota de colisão com a Terra.

Os principais centros espaciais do mundo ainda não se pronunciaram, mas já existe uma grande mobilização na comunidade científica e militar.

O impacto poderá trazer grandes conseqüências, levando em conta a extensão do asteróide, considerada a segunda maior do cinturão que vai de Marte a Júpiter.

O 2-Pallas mede 558x526x532 km e caso a informação seja confirmada trará mudanças sem precedentes na existência humana na Terra. A colisão deverá acontecer na primeira quinzena de julho de 2007. Logo, deveremos ter novas notícias das autoridades competentes, que por enquanto evitam comentar o fato para não gerar um descontrole generalizado na população mundial.

Infelizmente, ainda não será dessa vez que eu e você seremos desintegrados por esse suposto cubo interestelar gigante de 558x526x532 km. Tudo não passa de um informe publicitário e bem planejado da Citröen para promover seu mais novo modelo, C4 Pallas, que será lançado na primeira quinzena de Julho.

A notícia vem como todo falso prenúncio: da maneira mais crua e bombástica possível. Usuários com as características de exagero típicas dos boatos virtuais fazem sua parte propagando a mensagem - “um asteróide vai se chocar com a Terra em 2007”, “a colisão trará mudanças sem precedentes na existência humana na Terra” e “OMGZ RUN TO DA HILLZ!!!1” são algumas das frases alarmantes que, na realidade, fazem parte de uma campanha de marketing.

Esse tipo de campanha, também chamada de marketing viral, tem como objetivo fazer com que os internautas virulentos repassem as informações para seus contatos da web, aumentando a atenção sobre um determinado produto ou acontecimento, como no caso do asteróide. Uma alternativa que facilita muito a propagação dessas campanhas é a ferramenta “enviar por e-mail”, já que muitos dos visitantes da página clicam nesse ícone para repassar a informação, criando assim uma corrente.

Infelizmente o marketing evoluiu e aprendeu a se aproveitar da falta da nossa falta de questionamento crítico. Também se aproveita do fato de que alguns jornalistas, na ânsia por uma manchete bombástica, atropelam a checagem de fatos e tendem a publicar o que caia em suas mãos, seja verídico ou não. No caso dos jornalistas que publicaram a notícia do fim do mundo, estes nem ao menos tiveram a curiosidade de bisbilhotar o resto do site e ver que era uma montagem. Não procuraram no Google para ver se existia mesmo um tal de “International Astronomy Centre” e nem mesmo tiveram a malícia de ler o roda-pé da página e ler “Informe Publicitário” em letras miúdas.

Com este episódio, um sentimento de ultraje tomou conta de mim por dois motivos. Primeiro, que agora acredito tanto em “jornalismo investigativo verdade” quanto em Papai Noel. Segundo, acabei por tomar as dores das pessoas que foram enganadas pelo boato do asteróide de quatro rodas. Como se não estivéssemos cercados por informações mentirosas o tempo todo, agora até os comerciais precisam nos pregar peças? Eles eram meu último refúgio na ânsia por não-ficção.

Atualizações

• 2025-05-20: Removi parágrafos onde despejava minha ira ante jornalistas que não checam suas fontes de maneira gráfica demais.