Caminhada emagrece?
Nós seres humanos somos péssimos em inúmeras tarefas, tais como nos orientar de olhos fechados, dirigir enviando SMS ou tirar caquinha do nariz com luvas de boxe. Mas dentre os nossos piores fracassos está a incapacidade em saber quantas calorias gastamos com atividades físicas.
Quando se visita uma academia na segunda-feira, o cenário é completamente previsível na seção das esteiras. Um dia após a ingestão de uma quantidade de polenta e sorvete na casa da mãe que sustentaria uma tropa de 200 soldados espartanos, dezenas de pessoas vão dar aquela voltinha no quarteirão na tentativa de queimar o que acabou de ser consumido em excesso. “Dez minutos de caminhada e eu queimo aquele monstroburguer duplo com guacamole e cheddar”.
Agora, aqui vai um segredo milenar, o motivo primordial pelo qual a maioria das dietas falham: não há atividade física que compense uma alimentação ruim.
Tudo bem, eu sei que é espantoso. O fato das pessoas superestimarem seus esforços é o responsável por uma grande fração de fracassos nas tentativas de emagrecimento. Muitos passam a culpar o próprio corpo, achando que “meu metabolismo é muito lento”, ou “carboidratos me engordam”, ou “faço um monte de exercícios e não perco um quilo se quer, deve ser a tiróide”.
Um exemplo com números
Suponha que Natália, uma garota de 1,55 m e 45 kg vá a uma rede de fastfood com uma letra amarela gigante e peça um sundae. Um copo de sundae tem 290 kcal, 11 gramas de gordura, 40 gramas de carboidratos, 7 gramas de proteína e uma enorme carga de deliciosidade pura. Sobretudo se for de chocolate.
Terminado o flerte gastronômico com esse pequeno copo de sundae de 200 mL, eis alguns exercícios que a Natália poderá escolher para queimar as 290 kcal:
- Corrida (a 7 km/h) - 1 hora e 20 minutos
- Basquete - 1 hora e 30 minutos
- Natação - 2 horas e 40 minutos
- Caminhada (a 4 km/h) - 3 horas
Sabe quando a Natália vai fazer uma dessas atividades? Nunca. Parece que um copo pequeno dessa delícia toda é combustível suficiente pra tanta atividade? Nunca também.
Tal quantidade de exercício físico é inviável para a maioria das pessoas. Além disso, o fato da Natália ser tamanho P torna as coisas mais difíceis para ela, pois seu gasto metabólico é proporcionalmente menor. Como disse no começo do texto, humanos são péssimos em muitas coisas, mas são muito eficientes em economizar a própria energia.
Não estou aqui dizendo que a Natália deveria abolir o sundae para sempre. Mas gostaria de fazer algumas pessoas raciocinarem que é infinitamente mais fácil controlar o total de calorias consumidas num dia do que comer ad libitum e querer queimar essas calorias depois.
A falta de bom senso afeta mesmo os que teriam disposição para fazer um desses exercícios. Um ótimo exemplo sou eu mesmo, quando decidi correr para emagrecer há alguns anos. Eu corria 45 minutos por três dias da semana. Louvável, até que quando eu chegava em casa, tomava sob recomendação de “amigos entendidos” um shake hiperglicêmico para me recuperar da corrida que, coincidentemente, tinha tantas calorias quanto eu havia acabado de queimar.
Não tem lógica, não é mesmo?
Então eu devo parar de me exercitar?
De jeito nenhum. Eu acredito que a atividade física seja essencial para acelerar a recomposição corporal tão desejada. Um grande problema de comer menos para emagrecer, ao meu ver, é a ingestão de micronutrientes que se torna sub-ótima. A menos que você gaste alguns mangos em suplementos alimentares, inevitavelmente, no fim do dia, você terá consumido menos nutrientes do que o recomendado. Quando você aumenta o gasto calórico diário através de exercícios físicos, você comerá mais e terá uma maior probabilidade de se abastecer com a quantidade certa de micro e macronutrientes (lembrete: comer menos gordura do que o necessário também faz mal).
Além disso, há muitos estudos (como esse) mostrando que exercícios de musculação ajudam a reter massa muscular em épocas de baixo consumo de calorias. O custo metabólico de ter mais músculos pode ser desprezível (aproximadamente 20 kcal por kg de músculo), mas uma fração maior de músculos no corpo e significa um percentual de gordura corporal mais baixo - uma unidade muito mais interessante e aproveitável do que seu peso absoluto.